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Indaiatuba, São Paulo, 10 Abr (Lusa) - A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), instância máxima da Igreja Católica no país, divulgou hoje uma declaração de solidariedade aos três bispos do Estado do Pará, na região amazónica, que estão ameaçados de morte.
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Reunidos na 46ª Assembleia Geral da CNBB em Indaiatuba, São Paulo, os bispos pediram investigações e protecção para os ameaçados e manifestaram indignação face à violência e à perseguição dos religiosos.
"Em Cristo somos um só com eles e com as pessoas que eles defendem: os povos indígenas, as mulheres, crianças e adolescentes que o tráfico de seres humanos instrumentaliza, que a exploração sexual vende e as drogas matam. Apoiamos também seu empenho na defesa do meio ambiente", destaca o comunicado da CNBB.
Um dos bispos ameaçados, D. Erwin Kräutler, de Xingu, disse hoje à Lusa que esse apoio da CNBB é muito importante.
"A solidariedade da CNBB nos encoraja e fortalece a nossa luta", declarou.
Além do bispo de Xingu, também receberam ameaças de morte D. José Luiz Azcona Hermoso, de Marajó, e D. Flávio Giovenale, da diocese de Abaetetuba, todos no Estado do Pará, no norte do Brasil.
Segundo D. Erwin, as ameaças chegam através de cartas anónimas, da Internet e também por telefone.
"Eu conto com a protecção da Polícia Militar do Pará já há quase dois anos, 24 horas por dia. Sinto-me cerceado no direito de ir e vir e também na minha missão de bispo, mas não me deixo intimidar pelas ameaças", contou à Lusa o religioso que nasceu na Áustria.
Para D. Erwin, as ameaças prendem-se com o seu empenhamento em defesa da Amazónia, dos povos indígenas e contra a destruição da floresta.
"Há gente que quer enriquecer de uma hora para a outra às custas da Amazónia, sem respeitar o seu povo e o meio ambiente. Não podemos permitir isso", afirmou o bispo.
Outra razão apontada por dom Erwin é a sua posição firme contra a implantação da hidroeléctrica Belo Monte na região.
"Há estudos aprofundados da Universidade de Campinas (Unicamp) que indicam a inviabilidade do projecto, já que o rio Xingu, durante quatro meses ao ano, não tem condições de fazer funcionar todas as turbinas. Além disso, a população local nunca é consultada sobre este projecto", explicou.
D. Erwin acredita que a sua "intransigente exigência" para que fosse feita justiça no caso do assassínio da freira Dorothy Stang seja outra das causas das ameaças.
A missionária Dorothy Stang, 73 anos, norte-americana naturalizada brasileira, era conhecida pela sua luta em defesa da floresta Amazónica e trabalhou durante dois anos com D. Erwin.
A freira actuava há quase 30 anos na região amazónica e foi executada no dia 12 de Fevereiro de 2005 com seis tiros à queima-roupa em Anapu, a 600 quilómetros de Belém, à beira da Transamazónica, estrada que rasga a selva tropical.
As ameaças mais fortes dirigidas a D. Erwin tiveram início em 2006, quando o bispo de Xingu denunciou uma quadrilha que abusava sexualmente de meninas de 12 a 16 anos, e não pararam mais.
Em Fevereiro último, o religioso soube que há até um prémio de um milhão de reais (375 mil euros) para quem o matar.
"Eles querem vencer-me pelo terrorismo psicológico, mas não me intimidam. Nunca perdi a minha paz interior. E se concretizarem a outra hipótese (morte), já que na Amazónia é fácil arranjar um pistoleiro, a vida deles também vai acabar", salientou o bispo.
D. Erwin Kräutler protestou contra a ausência do Estado na Amazónia e criticou igualmente o Poder Judicial brasileiro.
"A Amazónia é uma terra sem lei. Verificamos a ausência do Estado em várias regiões da Amazónia e o Judiciário no Brasil está muito aquém do que se espera", concluiu.
CMC.
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