segunda-feira, 21 de março de 2011

Pesquisa aponta artesanato ainda fora da escola


Uma pesquisa, intitulada “Corporealidade e Corporegionalidade: do processo criativo à expressão do lúdico regional”, coordenada pela professora Elizabeth Pessôa Gomes da Silva, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e Desenvolvimento, da Universidade da Amazônia (Unama), mostra a relação dos artesãos paraenses com a sustentabilidade e o desejo que esses artistas têm de ver sua arte sendo trabalhada dentro das escolas.

O estudo, que também contou com a participação da professora Ana Claudia Vallinoto e das bolsistas Taiana de Miranda, Nayara de Souza, Jennyfer Barbosa e Lucicleide Ribeiro, mapeou artistas de Belém, Mosqueiro, Icoaraci, Baixo-Acará e Abaetetuba, cada um com sua especificidade.

Em Mosqueiro, foi observada a produção da varinha bordada que, segundo a coordenadora do projeto, veio se manifestar nos anos 40 e 50 e, com uma nova possibilidade, vem mantendo seus traços culturais, porém com uma contextualização histórica. Em Icoaraci, a pesquisa focou os artesãos da cerâmica. Segundo a pesquisadora, os artistas também trabalham com outras linguagens artísticas, como madeira e cabaças. “Eles têm outras propostas, independente da cultura indígena. Eles trabalham outros tipos de adequações, modificando, inclusive, a proposta inicial que é a própria cerâmica”, explica Elizabeth.

CIPÓS

No Acará, o foco foi acentuado nos artesanatos de cipós, com várias modalidades e tipos, bem como nas fibras vegetais. Já em Abaetetuba, as pesquisadoras encontraram o trabalho com miriti e uma associação 100% organizada, com novas propostas de manifestação de artesanato, melhoradas, inclusive nas suas especificidades mais tradicionais. A pesquisadora acredita que isso está ligado ao fato de essa cultura já ter destaque no Estado.
A ideia de realizar a pesquisa surgiu de uma inquietação relacionada à valorização da nossa cultura. “Queria verificar como ela se encontra, se é valorizada e como é tratada nos meios de educação formal. Nos estudos, percebemos que elas não constam de um conteúdo curricular programático dentro das instituições educacionais. Verificamos que há projetos pontuais, mas não, de certo modo, contextualizados e que mostrem ou acenem para o fato de que tratamos, sim, da nossa arte, da nossa cultura nas escolas”.

EDUCAÇÃO

Dentro das análises dos dados pesquisados, observou-se a sensibilidade para uma cultura ímpar, além do fato de todos eles, dependendo do seu nível educacional, assinalarem para a importância e a tentativa de trabalhar, dentro de um programa organizado, a cultura e a arte deles nos espaços educacionais.

“Eles têm uma entrega absoluta, uma criatividade invejável, pois todos trabalham com vários tipos de materiais e criam todos os dias coisas novas. Eles lamentam haver tão pouco investimento dos poderes públicos instituídos, não somente para se destacarem dentro do cenário local, mas também para levarem a sua arte como programa curricular dentro das escolas”.

As pesquisadoras encontraram projetos isolados, que, mesmo tendo a intenção de contextualizar os traços da nossa cultura, não os colocam em uma programação instituída dentro de unidades educacionais, à exceção de Liceu Raimundo Cardoso e de um projeto com cipó que existe numa unidade pedagógica, também da prefeitura, nas ilhas, o P. Santo Antonio.

MEIO AMBIENTE

No estudo, foi observada uma preocupação dos artesãos com a sustentabilidade ambiental. “Foi surpreendente porque essa variável não constava na nossa coleta de dados, mas que todos nos acenaram, como, por exemplo, a preocupação com as jazidas de barro, que vêm, há algum tempo, causando preocupação pela retirada irregular. O miriti, que já existe, praticamente, só na costa do arquipélago de Abaetetuba, e não mais no município. O mesmo acontece com a varinha bordada e os cipós do Baixo-Acará, que são nativos e, por conta do desmatamento, estão desaparecendo. Na pesquisa, nós propomos que haja uma continuidade, uma proposição de políticas públicas que possam alardear a situação que se encontra essa arte. Pois, sumindo a matéria-prima, nossa cultura desaparece”.

(Diário do Pará)

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