segunda-feira, 12 de setembro de 2011

COISA TRISTE I - DEU EM "O LIBERAL" (11-09-2011)

FOTO: Nazaré Gonçalves, moradora da comunidade do Rio Paramajó, leva lições para casa porque a escola está fechada.

Escolas de Abaeté deram adeus às aulas

Escola vazia, com salas de aula trancadas, em pleno dia de semana, às 10 horas, não faz parte das ações que prometem mudar os rumos do País a partir da educação, mas é a realidade do sistema educacional de Abaetetuba, no Baixo Tocantins. As escolas municipais e estaduais que atendem às comunidades ribeirinhas das 72 ilhas de Abaeté estão sucateadas ou simplesmente não funcionam por falta de professores. Em alguns locais, apenas metade das disciplinas está sendo ministrada, e o currículo escolar está sendo preenchido com assuntos repetitivos, que já foram estudados em anos anteriores. Já os alimentos da merenda escolar, estão sendo armazenados em depósitos sem a menor condição de higiene, expostos a ratos, moscas e outros insetos. Enquanto isso, os estudantes aguardam em casa o retorno das aulas, elevando o índice de evasão escolar da região.

A Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Mariaudir Santos, na ilha do Rio Paramajó, a cinco quilômetros de Abaetetuba, mantém suas atividades apenas parcialmente. Correntes e cadeados nas portas separam as crianças da sala de aula. Não há aulas desde maio. Uma reunião na primeira quinzena de agosto, entre representantes da prefeitura, comunitários e o Conselho Tutelar, fez a escola voltar a funcionar, mas não integralmente, descumprindo o currículo mínimo para as séries disponibilizadas. Com o pouco movimento no colégio, o espaço está totalmente cercado por mato e lixo, e algumas das paredes de madeira estão esburacadas.

Para a jovem Nazaré Gonçalves, que antes da paralisação estudava no Mariaudir Santos, a falta de aula prejudica os alunos de várias formas. 'Ficamos atrasados no ano letivo, e vamos ter que estudar as mesmas coisas em menos tempo que os colegas de outras escolas. Além disso, geramos despesas, pois contamos com a merenda escolar, e sem aula, temos que fazer esta refeição em casa', pontua. Ela mora na comunidade ribeirinha do Rio Paramajó e cursa o 2º ano do ensino médio, tem aula de matemática, física, português, geografia e história, ou seja, apenas cinco das dez disciplinas básicas para este nível de escolaridade, que inclui química, biologia, redação, educação física e língua estrangeira. 'As aulas, quando temos, começam às 13 horas e vão até às 17 horas. Depois somos dispensados, e voltamos para casa', afirma. A mãe de Nazaré, Lenia Gonçalves, tem mais 12 filhos e recebe com regularidade os R$ 102 de Bolsa Escola correspondentes aos três filhos em idade escolar. Com a pouca regularidade das aulas, ela teme perder o benefício.

Anexo - A Escola Estadual de Educação Fundamental Nossa Senhora da Paz, na comunidade do Rio Arumanduba, a oito quilômetros de Abaetetuba, está em situação deplorável. Funciona como um anexo do colégio Basílio de Carvalho - cuja sede fica na zona urbana de Abaetetuba -, mas não tem instalações. No local, alunos de 5ª a 8ª séries, assistem aula em salas improvisadas, com divisórias de compensado suspensas por hastes de madeira. Por baixo das divisórias entram nas 'salas de aula' animais domésticos como cães, gatos e porcos, interrompendo frequentemente as atividades de professores e estudantes. A estrutura foi montada na área de confraternização da igreja católica de Arumanduba. Segundo a professora Helenice André, a escola não tem professores de Arte, Educação Física, Química, entre outras. Ela assegura que há um projeto na Seduc para construir uma escola no local. 'Este projeto já tem oito anos. Ouvimos falar que o recurso já havia sido liberado, e que estava tudo pronto para iniciar a obra. Vieram inúmeros técnicos da Seduc , mas até hoje nada começou a ser feito', diz.

O coordenador da Unidade Regional de Educação (URA) da Seduc, Horácio Cardoso, explica que já foi detectada a precariedade da escola Nossa Senhora da Paz, e que o projeto de construção ainda não foi concluído. 'Não sei exatamente o custo desta obra, mas o projeto existe, e vamos implantar nesta comunidade uma escola de ensino regular. Enquanto isso não acontece, o Estado utiliza os barracões cedidos pelas igrejas para atender a necessidade destes alunos, sendo que isso é temporário', afirma, reconhecendo que o local não possui o ambiente apropriado para a prática da aprendizagem. 'É insalubre, mas é aquilo que podemos oferecer neste momento, para que ninguém fique sem aula', diz. Quanto à construção, Cardoso não sabe precisar uma data para iniciar, devido à burocracia na etapa de elaboração do projeto. 'O trâmite é lento, porque, quando muda o governo, é preciso começar do zero', justifica.

http://www.portalorm.com.br/2009/noticias/default.asp?id_noticia=552548&id_modulo=19

Foto: Elivaldo Pamplona
Fonte: O Liberal

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