segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DICIONÁRIO PAPACHIBÉ

Dicionário criado por Raymundo Mário Sobral já reúne mais de 1.500 expressões populares na região

Conversa daqui, conversa dali. É quase impossível, no uso da linguagem cotidiana, não usar expressões populares de cada região. Em Belém, inúmeras palavras surgem deslocadas de seu contexto original e ganham novo significado para usos diversos. Pois a linguagem é assim, dinâmica e muda constantemente. Atento a este fenômeno lingüístico, o jornalista e colunista do DIÁRIO DO PARÁ Raymundo Mário Sobral lança a quarta edição do livro “Dicionário Papachibé”.

Já são mais de 1.500 palavras e expressões catalogadas – algumas estão em desuso e outras foram incorporadas com o passar dos anos, já que o primeiro volume foi lançado em 1996.

As palavras aparecem em ordem alfabética, com sua devida significação popular. Um pequeno texto, quase sempre uma situação cômica, com exemplo de uso do termo, serve para orientar os leitores. Com três volumes e nove edições, o autor já vendeu mais de dez mil livros. O número é motivo de orgulho.

“Para um autor paraense é muita coisa, motivo de pavulagem. Para mim significa o interesse das pessoas pela nossa linguagem. Tem até um certo sentido didático, já que se não publicarmos essa expressões em um livro, elas vão desaparecendo”, diz.

A ideia de conceber um dicionário com termos do “paraensês” surgiu justamente de uma conversa, informalmente. Naquele ano, Sobral conversava com seu amigo Hiroshi Yamada e, durante o bate-papo, uma dessas expressões peculiares foi dita. Foi então o pontapé para ambos começarem a lembrar de uma infinidade de outras palavras e frases que costumavam ouvir.

“Rapidamente nos desafiamos sobre quem se lembrava de mais palavras. E contamos 30”, diz. E o amigo deu a ideia: começar a publicá-las na coluna Jornaleco. Da reunião das palavras já publicadas surgiu o primeiro volume do Dicionário Papachibé, que vendeu seis mil exemplares em seis edições.

A pesquisa e a publicação de termos continuaram e foram lançados mais dois volumes. Os leitores sempre ajudam, sugerindo novas palavras. Além disso, Raymundo Sobral costuma pesquisar também em livros da literatura regional, em obras de autores como Dalcídio Jurandir, Lindanor Celina e Benedicto Monteiro. Mas, longe de querer parecer filólogo ou lingüista, Sobral assume-se como um mero “linguajista”, apaixonado pelas falas das ruas, dos bairros e dos mocós mais remotos.

“O objetivo do livro é perenizar, preservar modestamente essas expressões. Muitas são da capital, mas existem expressões de Abaetetuba e da Ilha do Marajó”, diz o autor.

Confira algumas expressões:

AGUADA - Pessoa sem graça.
BATER NO XARQUE - Manter uma relação sexual.
CAIXA BOZÓ - Um lugar remoto, muito longe.
DESINCAIPORAR - Superar a má sorte.
ESQUENTAR A MORINGA - Ficar chateado.
FURICO - O mesmo que traseiro, bumbum.
GUARASUCO - Apelido que se dá a quem está em todas.
INHACA - Cheiro ruim.
LEVOU O FARELO - O mesmo que se dar mal.
MAMAR NA ONÇA - Condição de quem se casa com uma mocréia.
PEGAR O BECO - Bater em retirada.
QUIQUIRICOU - Caiu, levou um tombo.
TE ACOLHIA NA MINHA ILHARGA - Vem pra cá, aproxime-se.
UM ALHO - Pessoa afoita, muito agitada.
XEXELÉU - Qualificação de quem é subserviente, o popular puxa-saco.
Fonte: Diário do Pará

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