segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os territórios do tráfico desvendados

Das plantações da folha de coca na Colômbia, Bolívia e Venezuela, a droga transformada em pó, peteca ou pasta, chega ao Brasil via Itabatinga, no Amazonas. De lá, a mercadoria é transportada por rio a Abaetetuba, no Pará, e, em seguida, distribuída para todo o país. Em Belém, o produto vem pela Baía do Guajará até o rio Guamá e atravessa o Canal do Tucunduba, seguindo livremente em direção ao coração do bairro da Terra Firme.Essa é a rota descrita na “Geografia do Crime”, abordada na monografia de conclusão da especialização em Planejamento Urbano, que se ampliou, resultando em uma dissertação de mestrado defendida recentemente pelo geógrafo e pesquisador do Observatório de Estudos em Defesa da Amazônia, Aiala Colares. A pesquisa “Narcotráfico na Metrópole - das redes ilegais à ‘territorialização perversa’ na periferia de Belém” foi apresentada ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da UFPA e contemplou Colares com o prêmio “NAEA Monografias”, em 2008.O pesquisador se dedicou a analisar a relação do tráfico de drogas na periferia de Belém com as redes ilegais do narcotráfico na Amazônia de um modo geral, considerando todo o sistema mundial de circulação e distribuição de drogas. Segundo o pesquisador, primeiro o tráfico chega de outros países nas áreas mais periféricas e mais problemáticas das cidades, onde se territorializa. Mas essa dominação não se dá de forma pacífica, e sim imposta. É o que Colares chama de “territorialização perversa”.“Em toda área controlada pelo tráfico, existem conflitos entre os grupos criminosos e os moradores que não aceitam o domínio do território, entre grupos criminosos rivais, entre grupos criminosos e a polícia...”, explica Aiala Colares. Em outras palavras, a “territorialização perversa” se refere à maneira como traficantes e moradores mantêm uma relação tensa, marcada, sobretudo, pela violência urbana.A partir dessa dinâmica, a pesquisa analisa a formação de uma rede social do crime, que se refere ao envolvimento da sociedade com a criminalidade diante da falta de assistência do Estado. “Por exemplo, para o jovem da periferia, a atuação no tráfico representa ‘prestígio social’, uma vez que ganha muito mais dinheiro com o comércio de drogas do que como assalariado”, destaca Colares. A atuação de jovens no comércio da droga se dá principalmente na distribuição para outros bairros e como “soldados do tráfico”, que são aqueles que recebem para matar integrantes de facções rivais, delatores ou usuários inadimplentes.
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