segunda-feira, 29 de março de 2010

ACREDITEM: MILÍCIAS VIRAM REMÉDIO CONTRA PIRATAS!


Cansados de esperar pela reação dos órgãos de segurança pública, vários donos de embarcações começam a se organizar em formas de milícias para liquidar os criminosos que atuam nos rios paraenses. A prática ganha forma mais concreta nos furos e comunidades que pertencem aos municípios de Barcarena e Abaetetuba.

Em dezembro passado, quatro piratas foram surpreendidos enquanto tentavam roubar o motor de uma embarcação parada na margem de um dos rios. Dois foram mortos e outros dois fugiram. "Aqui (em Abaetetuba) já está até definido horário para andar de barco à noite. Ninguém se atreve a viajar depois das seis (horas) da tarde. Se alguém passar mal vai ter que esperar até o dia seguinte para encontrar com o médico porque a situação está insuportável por essas bandas", conta Manuel Antônio, dono de uma embarcação que faz linha entre a localidade Ajuaí e a sede do município de Abaetetuba.

Um dos motivos para desenvolver esse tipo de estratégia - criada, de certa forma, involuntariamente - é a falta de resposta para as denúncias feitas até agora. "O problema é depor contra essa gente. As poucas ocorrências registradas contra esses piratas não resultaram em nada. E, depois, eles são mais armados que a polícia. E pode acreditar: quando eles dizem que vêm te matar pode esperar que eles vêm mesmo", conta Messias Pereira, dono de um barco que transporta passageiros entre Abaetetuba e o rio Maracapucu.

A localidade possui aproximadamente 320 famílias e, segundo Pereira, não há quem viva de forma tranquila hoje em dia. "A gente tem casos de estupro, de gente que perdeu tudo o que levou uma vida inteira para comprar. É uma situação triste e desesperadora a nossa", conta Messias.

Em Paquetá, onde as milícias ainda não são uma realidade, a reação armada contra os piratas é uma idéia que ganha cada vez mais corpo. "Se não houver uma resposta do poder público, esta será uma atitude inevitável, até mesmo entre nós aqui de Paquetá,onde sempre vivemos na tranquilidade. A situação está chegando num nível onde a tolerância tem ficado cada vez mais difícil. Ou a polícia reage ou vira todo mundo bandido. Os de bem, no nosso caso, matando aqueles que querem roubar", desabafa Francisco Campos.

"Foi-se o tempo em que a gente vivia feliz em Arapiranga", diz ribeirinha

São onze horas da manhã e o barco que entra no principal furo da Ilha de Arapiranga é observado, pela janela, por todos os moradores do local. O guia que leva a equipe de O Liberal é conhecido na região, o que cria certo alívio entre os moradores. "É assim sempre. Entrou barco aqui fica todo mundo de olho pra ver se é conhecido ou não. E quando tem gente desconhecida na embarcação dá logo um nervoso em tudo quanto é morador", conta, depois de receber nossa equipe, o pescador Benedito Pereira Barros.

Na casa da dona Maria Ferreira, visitas como a feita pela reportagem são recebidas com satisfação. Um refirgerante e um pacote um pacote de bolacha são abertos durante a conversa. "É muito raro receber gente de bem aqui. Agora esse medo de pirata aqui na ilha isola todo mundo no Arapiranga. Nem mesmo quem tem família aqui vem visitar", conta a dona-de-casa, de 72 anos, que complementa: "foi-se o tempo em que vivíamos feliz aqui na ilha".

A entrada do furo que leva às casas na ilha de Arapiranga é rota dos barcos que fazem linha entre Belém e Abaetetuba. É somente quando passa um barco maior que os ribeirinhos do local se arriscam a seguir caminho para Icoaraci. "Nem sempre o plano dá certo, já que tamanho de barco não é impedimento para nenhum desses ladrões", explica seu Benedito. Ele já orientou os filhos para não se distanciarem muito da entrada da ilha quando saem para pescar. "Não me importo de comer pouco. Me importo mesmo é com a segurança da minha família", complemente.

Para dona Maria Ferreira, morar num furo onde a água seca quase que totalmente todos os dias é uma vantagem contra a pirataria. Com a água baixa, o acesso às residências do local só pode ser feito em velocidade bastante reduzida. "Pelo menos à noite a gente consegue dormir um pouco mais sossegada". Ela também não acredita que a Polícia, sela ela militar ou civil, atue no combate ao problema. "A polícia já mostrou que quando é um deles (policiais) que é roubado a coisa funciona melhor", opina.

Mais à frente, ela conta o caso do rapaz que perdeu um lado da visão depois de ter o olho acertado por um tiro disparado durante a fuga dos ladrões. Aqui, o medo é maior. Da porta da casa, o pai do rapaz, que ainda se recupera do ferimento, ameaça. "Se o senhor colocar o nome do meu filho ou mesmo o meu no jornal eu juro que vou atrás do senhor e lhe mato". A frase reflete bem o temor que existe em denunciar esse tipo de ação. Um medo que se espalha cada vez mais pelo Pará. Um medo que compromete a vida de gente ainda pouco acostumada com muitas das consequências provocadas pela vida moderna. Principalmente, a violência.

Reportagem:
Pedro Paulo Blanco

Especial para O LIBERAL
Edição de 29/03/2010

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