sábado, 25 de junho de 2011

BRINQUEDOS DE MIRITI

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Escrito Por Heitor e Silvia Reali

Pareciam brinquedos, viraram brinquedos

Na secular procissão do Círio de Nazaré, em Belém, artesãos transformam em arte objetos que os fiéis carregam para cumprir promessas.

Os ex-votos, braços e pernas, oferecidos em regozijo pelos milagres, vão equilibrados nas cabeças dos cumpridores de promessas. Na romaria do Círio de Nazaré, poderia parecer um balé macabro, não fosse a frota de barcos e canoas feitos de miriti, carregados pelos sobreviventes dos naufrágios. Esta é a graça mais alcançada de quem vive pra-lá-pra-cá nas temperamentais águas dos rios amazônicos.

O mar de gente forma a procissão da maior festa religiosa do Brasil, realizada desde 1793 no segundo domingo de outubro em Belém do Pará. Mais de 1 milhão de pessoas andam durante cinco horas. Milhares exibem seus milagres particulares, em bom tamanho e cores vistosas. Daí o uso da palmeira miriti, porque seu peso-pena é de grande valia nessa hora. O miritizeiro (Mauritia flexuosa), também conhecido como buriti-do-brejo, cresce nas áreas alagadiças da região.

As réplicas das embarcações, tão bem feitas e coloridas, parecem brinquedos. Para virar mesmo brinquedo foi um zás-trás. A canoinha ganhou o caboclo com seu remo marajoara, o feixe de cana e o cesto de açaí. Da bicharada da floresta saíram tucanos, araras, papagaios; e das águas, peixes e botos.

Tem também bois-bumbás, casais dançando forró, coretos e casinhas de palafita. Para ficar mais divertido, criaram movimento com ajuda de um pêndulo de argila, e assim pássaros bicam a comida e vaqueiros galopam.

Árvore da vida
É do chamado "braço da folha" que os artesãos retiram o talo, descascam e deixam secar, e nasce o brinquedo. Cores vivas a partir de corantes naturais constituem uma das características dos 360 artesãos envolvidos no programa Artesanato Solidário de Abaetetuba, a 75 km de Belém. O programa promove cursos para iniciantes, novos usos para o miriti, o manejo sustentável dos miritizeiros, exposições no Brasil e no exterior. No Museu Emilio Goeldi há uma mostra permanente desse artesanato, mas a grande exposição dá-se na feira dos brinquedos de miriti que cobre todos os gramados, praças e calçadas próximas à igreja de Nossa Senhora de Nazaré, razão maior dos festejos.

Para os vendedores que não encontram mais lugar para expor seus produtos, os artesãos criaram uma girândola, espécie de cruz com dois ou três braços do mesmo material, nos quais penduram dezenas de peças. Os ambulantes, conhecidos como homens dos brinquedos, além de espalhar mais colorido pelas ruas, parecem uma alegre, ingênua e divertida árvore da vida. O girandeiro virou brinquedo e talvez a pe ça-chave para se entender a festa nazarena de Belém.

http://www.almanaquebrasil.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8035:brinquedos-de-miriti&catid=12959:cultura&Itemid=142

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