sábado, 25 de junho de 2011

Estatísticas apontam que mortes na folga são maioria

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DE: Andréia Espírito Santo ((Da Redação)


A Corregedoria da Polícia Militar contabilizou quinze mortes de policiais nos primeiros meses deste ano no Pará. A maioria dos registros ocorreu enquanto eles estavam de folga - 13 mortes. O número é mais da metade do total registrado nos doze meses de 2010, quando foram 26 mortes, oito de policiais em serviço e 18 de PMs de folga. Este ano, os motivos para as mortes foram desentendimentos (2), assaltos (2), acidentes de trânsito (5), confronto (1), execuções (3) e doença (2). Fevereiro e abril foram os meses com mais registros, cada um com quatro mortes; logo em seguida estão janeiro, março e maio, com duas mortes, e junho, que só registrou uma morte até o início do mês, a do cabo da PM morto em Abaetetuba.

A morte em Abaetetuba chamou a atenção da Corregedoria da PM pela denúncia de abuso policial feita por moradores do município. Dias depois da morte em Abaetetuba, no dia 6 de junho, um policial militar, que estava de folga, foi acusado de matar um bandido na Cremação. Até o dia 8 de junho foram registradas 452 reclamações contra os policiais militares, o que significa, segundo análise do corregedor-geral da PM, o coronel Raimundo Silva Filho, 90 reclamações por mês e três denúncias diárias. Em 2010, foram registradas 446 reclamações contra a polícia no mesmo período.

O corregedor afirma que todas as denúncias são apuradas de acordo com o local e a situação. "Se for uma denúncia de um bairro perigoso, onde a polícia está com maior atuação, investigamos para saber se não é proveniente de algum traficante ou parente de traficante que quer reprimir o serviço da polícia. Tomamos muito cuidado", explica. E nem todas as denúncias, completa o corregedor, são resolvidas com punições severas.

"Quando envolvem menor potencial ofensivo, nós chamamos na sala da corregedoria e apuramos as questões. Nem todas são de abuso policial, algumas são brigas entre vizinhos, entre irmãos, reclamações de ex-mulheres, entre outros", comenta.

As punições para os policiais considerados culpados após as investigações das denúncias são detenção, repreensão, prisão, reforma administrativa disciplinar, licenciamento (para quem não tem estabilidade) e exclusão (para quem tem mais de cinco anos). Segundo a corregedoria, neste ano sete policiais foram excluídos, quatro licenciados, um oficial demitido e foram realizadas 103 prisões

Corregedoria evita possíveis transgressões

O coronel Raimundo Silva Filho explica que o próprio trabalho da corregedoria tem ajudado a evitar que os policiais cometam ilegalidades. "O policial sabendo o trabalho da corregedoria irá evitar possíveis transgressões. Se eles souberem que têm esse limite legal, o controle interno da disciplina, irão se segurar, porque muitos podem cometer atitudes indevidas no calor do combate à criminalidade", afirma o corregedor.

Outra questão, o coronel, é que o código de ética da Polícia Militar manda apurar todos os casos que chegam à corregedoria. "Nós temos esse código, então todas as denúncias, por mais simples que sejam ou sem procedentes, vão ser anotadas para a investigação. É a preocupação com a postura e aparência do policial militar na sociedade. Não criminalizamos tudo que chega à corregedoria", ressalta.

Sobre as mortes de policiais, o corregedor-geral da PM explica que serão apuradas pelas polícias Civil ou Militar, dependendo da situação. "Se o policial estava de folga quando morreu ou foi assassinado, o inquérito policial será de responsabilidade da PC (Polícia Civil). Quando é em serviço, a corregedoria faz as investigações. Mas, em ambos os casos, há um trabalho em conjunto", explica.

Segundo o corregedor, se há algum problema enquanto os policiais estão de folga e prestam serviços que não estão ligados à corporação, a atuação é da Polícia Civil com a Polícia Militar. "Se eles espancaram alguém ou se deram algum tiro que feriu ou matou alguém, inquérito policial é feito pela Polícia Civil, mas é aberto um procedimento administrativo militar", ressalta o coronel Silva. Ele cita o caso do dia 6 deste mês, quando ocorreu um duplo homicídio no bairro da Cremação, no qual um policial militar se envolveu. "Ele alegou legítima defesa. Nós vamos investigar o caso e tomar a devidas providências", afirma.

Quando colega morre, policial é orientado a não agir agressivamente

Raimundo Silva Filho ainda cita a questão da "comoção" policial e as providências tomadas pelo comando policial. "Quando ocorre algum crime de morte de policial entre os policiais, a corregedoria e os comandos operacionais orientam os PMs a não agirem com agressividade. Eles devem seguir a lei. Quando sabemos do comportamento abusivo, são tomadas providências para que isso não ocorra. Invasão a domicílio e ameaça às pessoas supostamente envolvidas no crime não podem ocorrer. Tem que ter a investigação para chegar em quem cometeu o crime contra o PM. Quando não seguem a lei e são abusivos, tomamos medidas disciplinares e as medidas penais são da Justiça Militar", explica.

Segundo ele, foi aberto um inquérito policial militar sobre as denúncias de abuso policial em Abaetetuba. "No final vamos verificar se houve transgressão da disciplina e abrir um procedimento para verificar o caso", garante.

Sobre o aumento dos números de reclamações, o corregedor afirma que se deve ao fato de o efetivo estar maior. O mesmo ele afirma para explicar o fato de as mortes de policiais terem aumentado em relação ao ano passado. "Quando aumenta o número de policiais, significa que haverá também mais gente de folga".

Ele explica que é solicitado aos policiais que não façam "bico" (trabalhos como vigilantes ou seguranças para completar a renda), para evitar problemas posteriores. Para tentar fazer com que os serviços extras não ocorram quando os policiais estiverem de folga, existe a jornada extraordinária. Segundo o corregedor, ela é paga ao policial mediante solicitação. Com isso, no dia em que o policial estaria de folga, ele trabalha e ganha pela "hora extra". O valor adicional vem na folha de pagamento, mas cada batalhão tem um limite por mês. "Por isso que os policiais acabam fazendo o ‘bico’, não é suficiente para todos os policiais", completa Raimundo Filho.

Caso com três versões teve a maior repercussão em fevereiro

A morte do policial militar Alexsandre de Castro Ferreira, de 28 anos, durante ação da polícia no Distrito Industrial, em Ananindeua, foi o caso de maior repercussão e investigação da corregedoria no mês de fevereiro. As investigações, afirma o coronel Silva, já foram encerradas e encaminhadas para a justiça militar. Na época, três versões sobre o caso foram apresentadas, mas todas envolviam outro policial militar.

Em casos como este, que um policial fere ou mata outro, o corregedor explica que são tomadas medidas de afastamento e tratamento psicológico para o envolvido. "As pessoas pensam que é só punição. Mas em situações de estresse também oferecemos o tratamento psicológico. O policial fica abalado quando passa por situações assim. No caso do policial que teria matado o colega de trabalho, ele foi afastado para fazer tratamento psicológico, ele já voltou a trabalhar e o inquérito está na justiça", explica.

Pai de PM morto diz que se preocupa com outro filho militar

Para o vigilante Idaltino Costa dos Prazeres, 65, pai do cabo da PM Idasildo Corrêa dos Prazeres, de 40 anos, que morreu no dia 3 após ser baleado em Abaetetuba enquanto trabalhava como segurança no horário de folga, a situação ficou mais complicada e dolorosa. Além de Idasildo, Idaltino tem mais um filho policial militar. Ele diz temer pela vida desse filho. A mãe dos policiais ainda não se recuperou da morte de Idasildo e está fazendo terapia para tratar o trauma, segundo o vigilante. "A família ficou muito abalada com o que aconteceu. Eu tinha dois filhos policiais e sempre fiquei preocupado quando eles estavam em serviço, mas nunca imaginei que isso aconteceria quando estivessem de folga. Se bem que eu sei que muitos policiais são ameaçados. A situação está difícil", conta.

Ele explica que os filhos precisam trabalhar na hora de folga porque o salário é muito baixo. "Idasildo tinha dois filhos e mulher para sustentar. O meu outro filho também tem. Eles precisam fazer ‘bico’. Mas agora eu e minha mulher orientamos o outro a ter cuidado. Porque os policiais sozinhos e à paisana são muito visados pelos bandidos", afirma Idaltino.

Segundo o vigilante, a PM e a Polícia Civil estão investigando os crimes e deram todo o apoio necessário à família. "Minha mulher está fazendo tratamento psicológico, minha nora também. Um dos acusados de matar meu filho está preso. Agora resta acompanhar o caso", diz.

http://www.orm.com.br/plantao/imprimir.asp?id_noticia=537430

1 Comment:

MyroSilva said...

Sou educador, mas a violência em nosso município está insuportável, ti que me mudar de Abaetetuba por ameaças de morte por traficante que denunciei. E apoio a forma como a Polícia (seja ela qual for), pois lugar de bandido é no cemitério, bandido bom é bandido morto. A sociedade consegue respirar melhor. Pois, quem não deve não teme.