sábado, 25 de junho de 2011

QUAL SERIA A VERDADE?

Morte de cabo da PM deu início a uma onda de violência inédita na cidade

Seis mortes, dentre as quais a de um policial militar, e duas tentativas de homicídio ocorridas em menos de nove horas. Este é o saldo registrado pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves - Unidade Regional de Abaetetuba e pelas Polícias Civil e Militar, ao longo da tarde e noite de sexta-feira (3) e durante a madrugada de ontem (4), no município situado na região do Baixo Tocantins.

A morte do cabo da PM, Idasildo Corrêa dos Prazeres, de 40 anos, deu início a uma onda de violência inédita na cidade, segundo moradores. Os crimes, de acordo com as informações obtidas até a noite de ontem, não possuem relação entre si.

Por volta das 17 horas da sexta-feira passada, no trapiche do porto de Abaetetuba, situado na rua Beira Mar, o cabo Idasildo pretendia embarcar com destino ao município de Moju, na mesma região. Ele estava de folga, segundo informações da PM. Moradores que presenciaram o crime afirmam que o cabo carregava uma maleta de dinheiro.

Segundo a PM, Adonai Farias de Souza, conhecido como "Ado", que estava à espera de Idasildo no porto, chamou o militar pelo nome e efetuou pelo menos dois disparos à queima-roupa. Um dos tiros pegou de raspão no queixo e o segundo acertou a região do pescoço, atravessando a cabeça, segundo informações do Centro de Perícias. O militar morreu na hora.

Uma segunda pessoa não identificada, segundo os moradores da cidade, também teria sido baleada, contudo não souberam afirmar se o acusado atirou propositalmente ou se a pessoa foi vítima de bala perdida. Em relação à maleta de dinheiro, não há informações se foi roubada, qual era a quantia ou até mesmo se realmente existia.

Minutos depois, o casal Danilo Ferreira, de 53 anos, e Maria da Conceição dos Santos Corrêa, de 43 anos, foi encontrado morto dentro de casa, situada na comunidade de Jarumã, ao longo da estrada que dá acesso à Vila de Beja. De acordo com o major Silva Junior, comandante da 3ª Companhia Independente da Polícia Militar (3ª CIPM), os dois seriam pais de um rapaz com várias passagens pela polícia - que os moradores afirmam se tratar de Adonai.

Horas mais tarde, por volta das 21 horas de sexta-feira em Abaetetuba, dois homens em uma motocicleta abordaram e assaltaram João Batista Ferreira dos Santos, de 50 anos, na esquina das ruas Dom Pedro I e São Paulo, no bairro de São Francisco, que foi morto a tiros pela dupla.

Já no início da madrugada, aproximadamente 1 hora de sábado, o quartel da PM do município foi acionada para averiguar outro homicídio, desta vez na entrada do bairro São Sebastião, próximo da rodovia João Miranda, portão de entrada da cidade.

Tratava-se do mototaxista Pedro Nicola Parente de Souza, de 33 anos, que, segundo informações repassadas pela família da vítima para a polícia, foi atender a um chamado por telefone. Entretanto, populares comentavam que Pedro teria sido morto por engano, pois tem o mesmo sobrenome, Nicola, usado por um conhecido criminoso da região.

Encerrando a onda de violência, a Polícia Militar informou que Denildo dos Santos Ferreira, também conhecido por "Mortadela", foi ao encalço de Jackson Palheta da Silva, de 18 anos, que estava em uma casa de shows localizada na rua Dom Pedro II, no centro de Abaetetuba. Uma troca de tiros ocorreu no final da festa, por volta das 2 horas, e Jackson tombou no local.

Também estava na casa de shows um sargento da Polícia Militar, que comemorava sua entrada para a reserva e foi reconhecido por Denildo, segundo a PM. Na ocasião, ele foi alvejado pelas costas, tendo o pulmão perfurado e fraturado uma costela. Em seguida Denildo fugiu do local, segundo informações de pessoas que presenciaram o crime. Em nota, a PM afirma que até o início da noite de ontem o sargento, que não teve o nome divulgado, foi trazido para Belém, onde está observação em um hospital particular e seu estado de saúde é considerado estável.

Polícias Civil e Militar permanecerão na cidade apurando casos

Em entrevista coletiva na tarde de ontem, em Belém, o comando das Polícias Civil e Militar se manifestou sobre os assassinatos ocorridos em Abaetetuba, nordeste do Estado. De acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública, Luiz Fernandes Rocha, equipes das Polícias Civil e Militar permanecerão na localidade apurando as seis mortes ocorridas entre sexta e sábado.

"Ainda não podemos adiantar muita coisa, pois as informações estão sendo apuradas com calma, mas nem todas as mortes ocorridas estão relacionadas. Deslocamos reforço policial para o município, além de uma equipe da Divisão de Homicídios, que já está em Abaetetuba desde a madrugada", declarou o secretário.

Segundo informou o comandante da Polícia Militar, coronel Mário Solano, o policial cabo Idasildo Correa dos Prazeres, estava de folga quando foi assassinado. "As informações que temos é que ele estaria trabalhando como segurança em uma agência bancária, mas não podemos dar certeza, pois as informações ainda estão desencontradas. O que sabemos é que ele não estava trabalhando pela PM, pois estava de folga", disse Solano.

Com relação ao envolvimento de policiais militares na morte do casal Danilo Ferreira e Maria da Conceição dos Santos Corrêa, supostos pais de Adonai Farias de Souza, apontado como autor do crime, o comandante disse que uma equipe da Corregedoria da PM foi deslocada até Abaetetuba para investigar o caso. "Por enquanto, o que temos são apenas especulações. Não podemos afirmar se existe a participação de policiais militares no assassinato deste casal, pois tudo precisa ser apurado corretamente", completou.

Para o delegado geral Nilton Atayde, a situação ocorrida em Abaetetuba fugiu da normalidade. "A média neste município é de quatro homicídios por mês e, só em dois dias, foram contabilizados seis, por isso decidimos enviar um efetivo ao local para investigar a situação".

Velório é marcado pela tristeza de familiares e amigos de cabo

Durante o velório do policial militar Idasildo Corrêa dos Prazeres, ocorrido ontem na capela mortuária da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, no centro de Abaetetuba, familiares e amigos lamentavam a morte prematura do cabo, que contava 15 anos de serviços prestados, todos no município.

Seu pai, o vigia Idaltino Costa dos Prazeres, de 65 anos, parecia estar anestesiado e falava com tristeza sobre a morte do filho. "Eu estava trabalhando quando uma das minhas filhas ligou e disse que o Idasildo estava morto. Entrei em choque. Sai correndo da empresa e fui atrás dela, que depois me falou que o corpo dele estava no porto. Ainda não sei exatamente o que aconteceu. Disseram apenas que ele foi baleado e que também roubaram a pistola dele", explicou.

Centenas de pessoas, oriundas do município e inclusive colegas de farda da capital e outras cidades, compareceram ao velório e à cerimônia, esta com duração de uma hora, na referida igreja. Diversas viaturas de diferentes guarnições e unidades da Polícia Militar da região também estavam no local.

Durante o cortejo, familiares, principalmente a mãe do policial militar, passaram mal e precisaram ser amparados.

Dentre as autoridades militares presentes, o subcomandante geral da Polícia Militar, coronel Carlos Augusto, participou da cerimônia e falou sobre Idasildo. "O cabo Prazeres esteve em Belém recentemente, onde fez um curso com a Rotam (Ronda Ostensiva Tática Metropolitana), e foi muito bem acolhido pelos colegas. Como podemos ver, a cidade inteira se sensibilizou com a sua morte e veio prestar suas últimas homenagens. Ele, que sempre viveu e atuou no município, será sempre lembrado pelos anos de serviço em prol da segurança e crescimento de Abaetetuba", pontuou. O enterro ocorreu às 17 horas, no cemitério Recanto da Paz, no bairro do Mutirão, com honras militares.

População comentava com receio sobre as seis mortes na cidade

Nas ruas de Abaetetuba, cuja população soma cerca de 140 mil habitantes, segundo dados do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os moradores tentavam manter a rotina e comentavam com receio sobre as seis mortes ocorridas durante o final de semana. Poucas pessoas falavam abertamente sobre os casos e muitas informações se apresentavam desencontradas, como o suposto envolvimento da Polícia Militar na morte do casal Danilo Ferreira e Maria da Conceição, o que foi considerado especulação pelas autoridades policiais.

Um morador antigo do município, que preferiu não se identificar, argumentava que a violência vem crescendo paulatinamente na região, espalhando-se também para os municípios de Igarapé-Miri e Moju. "A população está preocupada. Tem muita gente comentando que esses crimes foram motivados por dívidas de drogas, mas é tudo muito estranho. Que eu me lembre nunca aconteceu algo desta natureza aqui em Abaetetuba. Já houve várias mortes em um mesmo dia, porém foram acidentes, como a queda de uma obra, não assassinatos", destacou.

Para outra moradora, que também prefere não ter a identidade revelada, um dos principais motivos foi o crescimento desordenado da cidade. "Hoje Abaetetuba é uma cidade considerada polo, pois muitas outras cidades a tem como referência na região. Entretanto, nos últimos anos surgiram mais cincos bairros e o Poder Público não tem condições de atender imediatamente. Aí aumentam os problemas, como a violência, o tráfico de drogas, entre outros", resumiu.


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